Alfazema

 “Somos o fruto da cultura que nos tolhe, que nos escraviza pela expectativa que escolhe”.

Tens que casar. Ter filhos. Uma carreira. Tempo para o marido e para as crianças. Esmera-te no trabalho. Mas não muito. Não podes ser melhor que os homens. Luta pelo que queres. Mas não assim. Assim és histérica. Não te preocupes com o que os outros pensam. Mas tenta agradar a todos. Devias sorrir mais. Não podes gostar de mulheres. Foi essa a educação que recebeste? Sê proativa, mas submissa. Para que é que tu serves? As mulheres são todas iguais. “Comportamentos amenos, a menos que sejas louca. Com recato e em privado, não te exponhas como a outra. Abre menos essa boca, poupa ao teu questionamento. O rosto e corpo no ponto, e com pouco pensamento.” Usa saltos altos. Maquilha-te. Mas não muita, se não pareces uma puta. Tens que ser bonita. Sair bonita. Arranja-te. Onde é que vais assim vestida? Que roupa é essa? Como te atreves a dizer isso? Cala-te! Quem pensas que és? Volta para a cozinha, mulher. Não podes dizer isso. Não podes fazer isso. O teu namorado sabe que te comportas assim? Tu não és como as outras. Não podes ser como as outras. Tu és diferente. Não sejas uma vadia. Não uses essa roupa. Não digas palavrões, é deselegante. Sê sexy. Mas não muito. Faz sexo, mas não quanto queiras, se não és puta. Não sejas mal educada. Comia-te. Não sabes aceitar um elogio? Porca! Vadia. Cabra. Pensas que és boa?

“Tento fazer diferente, ser diferente dessa norma, militantemente. Ser exemplo, contradizendo-o sempre. Contradições nascem com tradições opressivas, como lições, para sermos fracas e reprimidas. Sem auto-estima, postas de lado como um talher, não foi pra isso que nasc
i uma mulher. Não vou cumprir com a put da expectativa, não é pra ela que oriento a minha vida."

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