Está quase a ficar tudo bem (comigo)

 A minha ansiedade e a minha depressão foram diagnosticadas no verão de 2012. Estava na faculdade, na transição do primeiro para o segundo ano, quando as pessoas que me rodeavam e se preocupavam comigo, perceberam que algo estava muito errado.

Tudo começou com um episódio de hipocondria (e por “episódio” entenda-se “meses”). Reparava em cada milímetro do meu corpo e achava que estava sempre doente. Quando as aulas recomeçaram, fiquei demasiado ocupada para pensar em doenças, mas o que tinha passado naquele verão deixou marcas.

Como já referi várias vezes (inclusive noutro texto que postei aqui), foi nessa altura que comecei a ser acompanhada em psicologia e psiquiatria, mal sabia eu que seria durante mais de 7 anos. Comecei por ser acompanhada no público, por uma psicóloga que de facto adorava, mas por um psiquiatra que achava que ver-me uma vez por ano e entupir-me de medicamentos era suficiente para me tratar.

O meu percurso no que toca a estas duas doenças foi, durante estes anos, repleto de altos e baixos. Mais baixos do que altos, para vos ser sincera. Houve alturas em que não conseguia ver esperança para mim, e as pessoas que me rodeavam estavam também a ficar desesperadas por não saberem como lidar comigo. A ansiedade e a depressão tomaram conta de mim, de tal maneira que eu deixei de ser eu própria. De tal maneira que perdi noção de quem eu era realmente.

Em 2018, numa das grandes recaídas que tive, e como já trabalhava e tinha acesso a seguro de saúde, optei por começar a ser acompanhada no privado. E foi das melhores coisas que podia ter feito. Aquilo que antes era visto como ansiedade, depressão, episódios depressivos, episódios ansiosos, ganhou outro nome, e fui diagnosticada, finalmente – e digo finalmente porque comecei a ser corretamente medicada – como um espectro de Transtorno de Personalidade Borderline. O que eu tinha, já tinha nome. Já tinha o tratamento correto.

Apesar disto, os altos e baixos na minha recuperação continuaram. E posso dizer-vos, com toda a certeza, que a altura em que fiquei pior, a altura em que realmente bati no fundo, foi a partir de Março do ano passado – sim, coincidiu com o início do confinamento. De início, surgiu-me uma pequena preocupação com a minha saúde mental, pensei “e agora que estou confinada? E agora que estou em teletrabalho, o que vai ser da minha doença?”, mas confesso que mal sabia o que vinha aí.

Comecei com paranóias, pensamentos terríveis que me invadiam, de que ia ficar sozinha, o que ia ser de mim quando perdesse os meus pais, que os meus amigos me iam abandonar. E sabem o que veio a seguir? A hipocondria. Novamente. Achava que estava doente, a ficar cega, com problemas neurológicos, e podia nomear muito mais coisas. Consultei mais de 5 oftalmologistas num espaço de duas semanas, e não havia medicamento ou pessoa que me apaziguasse o coração e a alma.

Em Junho do ano passado, surgiu a oportunidade – sim, eu chamo-lhe oportunidade – de ficar a trabalhar fixa no escritório da empresa onde trabalho. Aceitei logo, porque queria mesmo sair de casa. A minha psicóloga e a minha psiquiatra apoiaram-me – só lhes tenho a agradecer. Encontrámos juntas o cocktail perfeito de medicamentos, mas eu estou farta de medicamentos.

Com o passar dos meses, e sem sequer me aperceber, a paranóia das doenças desapareceu aos poucos. O meu coração começou a ficar mais quentinho, e eu percebi que os meus amigos não vão sair de perto de mim, ninguém me vai abandonar, e eu não vou acabar a minha vida sozinha. Quanto aos meus pais, que se conservem muitos anos, porque sem eles nada sou.

2021 começou e sem me aperceber tinha ultrapassado mais uma das piores fases da minha vida. Em consultas recentes, fui parabenizada tanto pela psicóloga, como pela psiquiatra. Ouvi frases como “isto foi trabalho seu”, “está de parabéns”, “não foram só os medicamentos”. E enquanto escrevo isto cai-me uma lágrima, porque porra, eu estou realmente a conseguir sair disto!

Entretanto, comecei desmames, reduzi medicamentos, com perspetivas de deixar TODA a medicação ainda no início deste ano. Está quase a ficar tudo bem na pandemia da minha cabeça. Eu estou a conseguir.

Para quem luta contra estes demónios, vocês também vão conseguir. Vocês são fortes – claro que são fortes, continuam aqui. Estamos aqui, estamos aqui todos. Não desistam. Procurem ajuda.

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