Saúde mental em tempos de Covid-19

O título é quase um "Amor em Tempos de Cólera", eu sei. Perdoem-me a falta de originalidade. E à semelhança de todos os outros textos deste blog, este vai partir de uma perspetiva pessoal. Não sou psicóloga e não tenho as ferramentas necessárias para abordar esta questão de um ponto de vista imparcial e científico.  

Nesta altura de isolamento obrigatório, problemas como a ansiedade e a depressão podem agravar-se. Evitamos um problema e outros aparecem. Comprometemos a saúde mental para (tentarmos) salvar a física. Mas o psicológico nem sempre aguenta. 

Normalmente gosto de estar em casa. Sempre fui uma pessoa bastante caseira. Ver séries, ler. Estar com os meus pais. Mas faço isso para fugir à rotina dos meus dias lá fora. Mas já não há por onde fugir porque agora nem sequer há dias lá fora. Criar escapes não é fácil em circunstâncias normais, e torna-se ainda mais difícil agora. Podemos ver televisão, podemos fazer maratonas de séries, exercício em casa. Até podemos ir às compras e fazer deslocações curtas para exercício físico. 

Mas os pensamentos gritam-nos dentro da cabeça. E o que antes era um escape é agora rotina. E agora qual é o escape para calar a minha ansiedade? Qual é a saída agora para fases depressivas? 

Não tenho estado propriamente em contacto com pessoas que tenham as mesmas condições psicológicas que eu, mas acredito que esta esteja a ser uma jornada difícil. E além de difícil é assustadora. 

Todos estamos com medo neste momento. Todos tememos o futuro e, provavelmente, agora será pelo mesmo motivo: uma pandemia que assolou o mundo. E cada um tem os seus problemas. A nossa vida não parou (bom, mais ou menos). As pessoas continuam a trabalhar, a desenvolver relações interpessoais, mais que não seja através das redes sociais. Continuam a manter relações de amizade, relações amorosas. A tratar da casa, dos filhos, das plantas e dos animais de estimação. E agora fazem isto tudo com medo. Um medo comum a todos nós.

Mas para efeitos de comparação, e aqui falo para "neurotípicos" (eu detesto esta palavra), imaginem estes medos comuns a todos, juntos com outros medos pessoais, medos de coisas que nem sequer existem. Mais o medo do abandono, o medo do desconhecido. O medo do amanhã, mesmo que não se viva uma pandemia. O medo absurdo de um dia todos os nossos amigos nos deixarem, porque sim. Imaginem os medos comuns a todos, mais uma nuvem negra constantemente sempre por cima das vossas cabeças, e aquela voz que vos relembra constantemente "como te atreves a estar descontraída por 5 minutos?".

Sim, eu imagino-me a ter diálogos com a minha ansiedade e a minha depressão constantemente. A minha ansiedade diz-me constantemente para estar alerta. Eu pergunto porquê e ela responde-me "porque sim". Eu estou alerta neste momento porque todos estamos, pelo mesmo motivo. Mas estou alerta, ansiosa, e em pânico por coisas que nem eu sei se existem sequer. 

E estou em casa, sempre. Todos os dias. Porque neste momento não tenho escolha. Se tivesse, será que não estava em casa na mesma? Não sei. Porque não tenho. E porque agora tenho que estar aqui. A tentar calar as vozes histéricas dentro da minha cabeça, e a tentar focar-me onde todos estamos focados.

E sabem porque é que isto interessa? Porque em circunstâncias normais, posso estar rodeada de gente e sentir-me sozinha. E como eu há outros tantos à vossa volta. E à minha. E provavelmente eu nem sei. Mas agora eu não estou rodeada de gente. 

No meio de tudo o que se passa lá fora, eu continuo a ter pessoas que se preocupam comigo. Estou em contacto com amigos, com família, tenho os meus pais aqui. E estas pessoas seguram-me para que eu não caia. E seguram-me sempre, não só agora. 

Há gestos que nos fazem sentir menos sozinhos. Não se esqueçam das vossas pessoas. 


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