O teu colega de trabalho



Este texto é sobre empatia.

Porque sabes o que falta no mundo? Entre tantas outras coisas, empatia. Sabes o que é empatia? Num sentido lato, é colocarmo-nos no lugar do outro. Calçarmos os sapatos do outro. Fazer aquele esforço para o compreendermos, entender pelo que está a passar.

Sabemos que isto nem sempre é possível, nem sempre pode ser assim tão fácil. Às vezes esse outro não fala connosco, não nos conta as coisas. “É tímido”, “é anti-social”, “não gosta de nós”.

Quantas vezes pensaste isto sobre o teu colega de trabalho? Sabes, aquele que se senta sozinho. Ou que até se senta em grupo, mas não fala assim tanto. Ou aquele que se senta acompanhado, até convive com a malta, mas tem “pavio curto”, qualquer coisinha e lá está ele a cascar em vocês. 

E aquela colega que anda sempre de cara fechada – a típica “bitch face”, não é? – e nunca te dirigiu uma palavra. Nem tu a ela, porque ela te parece super antipática. 

Então e a outra que sai sempre mais cedo e entra sempre mais tarde – como é que ainda não foi despedida? E a outra que meteu baixa “para não fazer o turno da noite”?

Conheces pessoas assim? Já pensaste sobre elas? Mas pensaste a apontar-lhes o dedo, ou pensaste realmente sobre elas?

As empresas estão cheias de pessoas, cheias de regras, cheias de horários, cheias de trabalho. As pessoas, como tu, como eu, como os teus colegas de trabalho, chegam ao fim do dia exaustos. Resmungões, cansados, sem vontade para nada.

Isso tu sabes, porque isso tu vês. Mas pensas sobre o que não vês?

Pensas no que se pode passar com aquela tua colega que tem baixa quase todos os meses? Ou com aquele que tirou 5 meses seguidos e nunca mais lá pôs os pés? 

Empatia é sobre não olharmos só para o nosso umbigo. Eu sei, às vezes não podemos fazer nada para ajudar as pessoas. Aquele que tem que ir buscar os filhos á escola e que sai mais cedo para isso. A que tem um esgotamento porque está sobrecarregada com trabalho. Aquela que precisava de baixa e a mandaram tirar férias. Eu não posso fazer muita coisa por eles. 

Mas há uma coisa que eu posso fazer. Não julga-los sem saber. E sabes porquê? Porque o meu colega de trabalho, a tua colega de trabalho, aquelas pessoas que vês todos os dias, têm uma vida fora daquele ambiente. Têm família, coisas para tratar, contas para pagar, problemas de saúde – físicos ou psicológicos. E tu não sabes disso. 

Fazes ideia de quantos dos teus colegas, a quem já apontaste o dedo, tomam medicamentos para dormir? Ou para se manterem acordados? Quantos tomam medicamentos para se manterem, sei lá, vivos. Para não chorarem. Sabes quantos choram na casa de banho? Sabes quantos prendem uma angústia no peito para não desatarem a chorar à frente das pessoas, porque lhes vão apontar o dedo?

Empatia é tentares relativizar as coisas. Sobre os teus colegas. Sobre as pessoas. Trabalhamos mas somos pessoas, não somos máquinas. Precisamos de respirar. De ser respeitados.

Olha à tua volta. Não existes só tu.

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