Nunca fui muito dada a estas coisas de falar sobre mim.
Muita gente já escreveu tanta coisa sobre mim, mas eu nunca escrevi nada sobre
mim. Não sei bem porque é que decidi fazê-lo. Talvez gostasse que me lessem,
que me percebessem. Isto, porque apesar de tudo o que escrevem e falam, parece
que isso nunca é suficiente para me perceberem, para lidarem comigo. Sou um
tabu, a verdade é essa.
Por outro lado, não sei se estou a escrever isto para mim,
ou para os outros. Quero mesmo que alguém leia isto? Quero mesmo que alguém
leia o pior de mim? Bem, não sei. Normalmente não sou de muitas certezas, e
também não deixo muitas certezas nos outros, pelo contrário.
Das poucas certezas que tenho, é que sou omnipresente e
omnipotente. Não sei se esta será a melhor maneira de me apresentar – corro o
risco de pensarem que me falta modéstia -, mas esta é a verdade. Tornei-me mais
forte com o tempo. Sei lá, parece que as pessoas andam aceleradas e nem dão por
mim, e quando percebi isso, aproveitei cada oportunidade que tive ao longo da
minha existência, e podem crer que se não me param, vou continuar a
aproveitá-la.
A verdade é que nunca ninguém me pareceu preocupado em
parar-me. Acalmam-me, adormecem-me. Mas será que é possível realmente
pararem-me?
Já não sou nova, mas o que me dizem é que sou “dos tempos
modernos”, “para ricos”. Não, não sou nenhuma puta de luxo. Mas sou uma grande
filha da puta. E digo-o com orgulho.
Posso estar com milhares de milhões de pessoas ao mesmo
tempo. Posso ser a pior inimiga do teu melhor amigo, e tu não percebes. Posso
acompanhar o teu pai, dia e noite, e tu não percebes. Posso ter dado crises
terríveis aquela tua tia que toda a família chamou de louca, e tu nunca
percebeste.
Mas sabes o que é pior? Para ti, que me lês, digo-te com
toda a sinceridade do mundo: é quando estou contigo, e tu não percebes.
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