Estou a escrever-vos porque preciso, porque
quero, e porque eu, a minha ansiedade e a minha depressão “celebramos” cerca de
5 anos juntas. Tenho 24 anos e em 2012/2013 – quando entrei para o Ensino Superior
– percebi que alguma coisa não estava bem comigo, a nível psicológico. Sempre
fui uma pessoa ansiosa, mas todos já passámos por aquele tipo de ansiedade dita
“normal”, antes de um teste, de uma apresentação, de uma situação onde vamos
estar mais expostos, mais vulneráveis.
Até então, esse era o tipo de ansiedade que
eu sentia, era “normal”. No final de 2012, as coisas complicaram-se. Chegou a
mania das doenças, chegaram ataques de pânico, coisas que eu não conseguia
controlar nem explicar – o pensar demasiado, o antecipar, o não querer sair de
casa. Com isto, uma tristeza profunda, a apatia. Sem rodeios: a depressão. Quais
foram os motivos? Não sei. Nem sei se os há. A faculdade contribuiu? Pode ou
não ter contribuído.
Seguiram-se consultas no psicólogo – onde,
desde sempre, tenho sido bem acompanhada -, e no psiquiatra – aquela pessoa
que me vê uma vez por ano, acha que está tudo bem comigo, mexe e remexe na
minha medicação, e diz-me com um sorriso na cara: “até à próxima consulta,
daqui a um ano”.
Medicamentos. Tomo-os desde 2013 – sim,
tenho 24 anos, fui diagnosticada com Transtorno de Ansiedade Generalizada e
episódios depressivos e desde dois mil e treze que tomo medicação. Um
psiquiatra que me vê uma vez por ano e que mexe e remexe no que eu tomo.
As melhorias? São por fases. Posso estar no
fundo do poço, como na semana seguinte posso estar no maior período de euforia
da minha vida. Porque é que fico no fundo do poço? Não sei. Haverá sequer um
motivo?
Tenho recaídas destes episódios, algumas
mais graves que outras. As circunstâncias que me rodeiam podem ou não contribuir
– um trabalho stressante, uma vida agitada, um ou outro desgosto, etc.
A verdade é que, há umas semanas tive uma
das piores recaídas de sempre. Continuei a trabalhar, fingi que não se passava
nada. Afinal, o meu psiquiatra ia ver-me em JANEIRO DE DOIS MIL E DEZANOVE.
Levantar-me da cama, tomar banho, lavar o cabelo, ir trabalhar, estar com
amigos, era como fazer trabalhos pesados. Os episódios de ansiedade
repetiam-se. Choros, taquicardia. Sentiam-me perdida.
Felizmente, tenho à minha volta as melhores
pessoas do mundo: os meus amigos, os meus pais, os meus irmãos. Pessoas que,
nesta altura, perceberam que eu precisava de ajuda, que me estava a afogar e me
deram a mão.
Fui ao médico – neste momento estou de
baixa -, estou medicada. Encontrei uma psiquiatra que parece estar empenhada em
ajudar-me, que percebeu que não era normal alguém com 24 anos tomar
medicamentos há 5 anos, sem nada mudar. Estou num período de adaptação e a
passar uma fase que tem tanto de estranha como de complicada. Não estou fechada
em casa, mas saio pouco da minha zona de conforto.
A medicação ajuda-me, e sou aquela pessoa
que revira os olhos quando me dizem que “o melhor antidepressivo é ter um cão e
passear na natureza”. Pode ser. Cada pessoa é uma pessoa, mas pill shaming
deixa-me com vergonha alheia.
Vivo nesta odisseia de medicamentos,
médicos, episódios depressivos e ataques de ansiedade desde os meus 18/19 anos,
e acho que se passear na natureza fosse o remédio certo para mim, estaria
curada. Mas não estou – ainda.
Apesar de tudo, e mesmo que veja as coisas
tão negras quando estou mal, tenho a sorte que algumas pessoas podem não ter:
pessoas atentas, que perceberam os meus sinais e que estão a fazer DE TUDO para
me salvar. Uma família presente. Amigos que me perguntam como estou, mesmo que
eu só responda a uma mensagem por dia – é o que consigo neste momento.
Nunca tive “pensamentos maus”, nem nunca
tive vontade de fazer mal a mim própria. Quando estou mal, mergulho numa apatia
gigante e só quero ser invisível. Mas há quem tenha. E isso é grave. A
depressão e a ansiedade, além de magoarem, de nos condicionarem, de não nos
deixarem fazer a vida normal – matam. A negligência médica mata. E isto é a
sério.
Eu agradeço por ter comigo toda a gente que
me rodeia, mas deixo aqui este apelo: estejam atentos às pessoas de quem
gostam, vejam os sinais; sejam empáticos e coloquem-se no lugar do outro.
Ninguém sabe pelo que as outras pessoas estão a passar.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarBoa noite Fernando,
EliminarMuito obrigada por esta partilha e pelas suas palavras. Aos poucos, irei sair desta situação sim. Admiro muito também a sua coragem para enfrentar tudo aquilo pelo que passou.
Um abraço,
Filipa Bule