Carta aberta à minha ansiedade


Um sufoco. Uma raiva. Lágrimas. A respiração que não se controla. O mundo que desaba. A tristeza. A apatia. É isto que me fazes sentir, todos os dias. É contra ti que luto, todos os dias. Mandam-me sorrir para ti, ignorar-te. Esquecer-te. Mas tu não deixas.

Tu não me deixas, nunca. Finges que te vais embora, mas ficas escondida. Atrás da porta da minha casa. Atrás da porta do meu quarto. Debaixo da minha cama. Dentro do meu armário. Ficas lá. E quando eu te esqueci, como me disseram para fazer, tu voltas.

Chego a casa e tens uma mesa preparada para tuas. Com velas acesas. E queimas-me. E anuncias que voltaste. E que trouxeste contigo um sufoco, uma raiva, lágrimas. A respiração que não se controla. O mundo que desaba. A tristeza e a apatia. Voltaste e trouxeste isso.

Eu digo que não aceito os teus presentes, que não te quero na minha vida. Sou forte e dou um murro na mesa que preparaste para nós. Puxo a toalha e mando tudo para o chão. Expulso-te. Da minha casa. De trás da porta do meu quarto. Do meu armário.

Não te quero na minha vida, mas tu insistes em voltar. Como se fosses a minha melhor amiga. E eu acredito em ti, sabes? Às vezes esqueço-me daquilo pelo qual me fizeste passar, meses a fio. Anos. E penso que se te tenho, tenho que te aceitar.

Mas eu não te quero. Não te quero na minha vida. Não quero sufoco, raiva, lágrimas. Não quero uma respiração descontrolada. Não quero um mundo que desaba, nem tristeza. Não quero apatia.


E vou expulsar-te. Para sempre. Porque na minha vida, atrás da porta da minha casa ou do meu quarto, debaixo da minha cama ou dentro do meu armário, vai deixar de haver espaço para ti.

Comentários

  1. Impressionante! Incrível texto e descrição fiel do que é esse monstro.

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